quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Pensamentos II

O que se pode fazer quando tudo aquilo que se deseja parece estar
distante de nossas possibilidades? Como conviver com essa falta
que amargura o coração de quem se sabe carente, sente os desejos e é obrigado a aceitar a impossibilidade de concretizá-los?
Ele conhecia bem essa angústia da falta e do desejo. Desde menino trazia consigo esse sentimento de desejar, de possuir, de ter, de ser alguém ou representar algo com um grau de importância que ele mesmo não sabia como expressar. Um buraco no peito, uma incapacidade de raciocínio lógico, uma angustia que o levava a considerar-se o mais infeliz das criaturas sobre a Terra. Não era uma carência material, ou a falta de estruturas mínimas para uma vida confortável e sadia, tudo isso era oferecida pelos seus pais. Era uma carência existencial. A conhecida sensação de buraco no peito retornava mais forte, as angústias triplicavam, o medo do que poderia acontecer invadia sua alma e seus pensamentos. Seria medo da morte? Mas não temia a morte, pelo contrário tinha por ela certa simpatia e agradecimento. Simpatizava com a certeza de encontrá-la um dia.
Temos o péssimo hábito de nunca estarmos contentes com o que somos e com o que construímos. Esse comportamento é reflexo da adequação a que nos submetemos para parecermos normais, no fundo não valorizamos tanto assim nossas realizações e conquistas. Aquele egocentrismo infantil, aquela análise do mundo e dos outros continua acontecer a partir de nossos umbigos. Pouco nos interessa saber do outro, queremos mais. Não, não somos felizes! Felizes são eles que têm isso, possuem aquilo, podem comprar o que quiserem.
Há pessoas que se tivessem vivido um quarto das experiências que vivemos estariam plenas na realização de seus desejos. Se analisar-mos veremos que nossos mais profundos desejos e realizações não passam de hábitos quotidianos para alguns e, mesmo esses alguns, estão cheios de angústias e preocupações quanto aos seus desejos. Porque desejamos coisas diferentes. Estaria no desejo a causa maior da infelicidade?
É necessário encontrar um equilíbrio. Mas, qual equilíbrio? Deste que mantêm alguns poucos tão felizes e realizados e remete outros ao mais profundo vazio? Esse equilíbrio que prega o amor entre os homens, a fraternidade, e que diz sermos todos iguais perante a Deus? Mas como, se Deus nem neste mundo reside? Se Deus criou este mundo e tudo que há nele por que então deliberou sua administração aos homens, se sabe que os homens são egoístas e não medem esforços nem respeitam o próprio Deus quando se trata de alcançar seus objectivos? Por que Deus não ficou, ele mesmo aqui, na sua criação a administrá-la, a indicar o caminho correcto que os homens deveriam seguir?

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