sábado, 18 de fevereiro de 2012

Espelhos


Olhar no espelho pode representar muito mais do que a certeza da aparência física. Nossos olhos conseguem ir além da imagem que reflete, conseguem ir ao interior. O espelho só ganha vida quando passamos a conseguir realmente ver através dele.
 Muitas vezes olhei-me ao espelho e mal me consegui ver, porque por detrás da imagem de um comum ser, ao olhar-me profundamente nos olhos, conseguia aperceber que se escondia uma pessoa frágil, triste e fraca. Alguém que questionava se o que via era realmente a sua representação fiel ou apenas uma figura qualquer, tentando convencer aos outros e a si mesma de que tudo estava bem e inteiramente sob controlo. Quase sempre fazemos isso! Olhamos o espelho, penteamos os cabelos, exibimos as faces ruborizadas e coloridas, ensaiamos um sorriso amarelado e pensamos que o dia vai correr bem. O espelho passa a ser um amigo, falso. Ele não nos engana, somos nós na medida certa que queremos ser enganados.
Quando pensamos no reflexo do espelho, vemos apenas a superfície e, desse modo, vemo-nos superficialmente, deixando de analisar o que há escondido nas profundezas. É mais fácil, naturalmente, crermos nisto, pois somos tão carentes, que mergulham-mos nessa certeza e deixamo-nos afogar nas contradições da vida. Quando olhamos com olhos de ver, procuramos uma forma de atenuar a amargura e tristeza, quando nos conseguimos realmente ver.
Estar ou ser belo nasce de dentro, das profundezas do nosso ser. Na superfície somos o que queremos ver, mas a realidade esconde-se nas profundezas. Quem reflete a imagem somos nós e não ele. Não importa mostramo-nos incrivelmente belos ou terrivelmente feios. Importa é o que está além do que os olhos vêm, lá dentro. O espelho é capaz de traduzir com fidelidade o espírito de quem está diante dele, é um amigo sincero. Mas culpá-lo não resolve. Primeiro deve-mos ao ver-nos, entendermo-nos. O belo irradia sentimentos.



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